"Para as empresas portuguesas, uma grande oportunidade irá surgir quando começar a reconstrução da Ucrânia" - afirma Dorota Barys.
Em entrevista à "Vida Económica" a embaixadora da Polónia em Lisboa considera que o mercado polaco será estratégico para empresas interessadas em participar nesse processo, especialmente no setor da construção. Dorota Barys destaca o crescimento acentuado das trocas comerciais entre os dois países e o facto de Portugal ser o segundo destino mais procurado pelos estudantes polacos em mobilidade no âmbito do Programa Erasmus.
Polónia será um centro logístico e estratégico para a reconstrução da Ucrânia.
Vida Económica: Como avalia a evolução das trocas comerciais entre a Polónia e Portugal?
Dorota Barys - A tendência tem sido bastante positiva para nós, uma vez que registamos um excedente comercial. No final de 2023, esse excedente foi de 935 milhões de euros, num total de trocas comerciais de 2,84 mil milhões de euros. A Polónia exportou cerca de 1,9 mil milhões para Portugal, e esse valor tem vindo a crescer significativamente nos últimos oito anos, com um aumento de aproximadamente 250%. Isso demonstra um excelente desenvolvimento do comércio bilateral.
Além disso, a presença de empresas portuguesas na Polónia também está a crescer. No último ano, foram registadas mais de 150 empresas portuguesas no país, incluindo grandes grupos como o Jerónimo Martins e o Millennium BCP, mas também muitas pequenas e médias empresas que começam a expandir-se para o mercado polaco.
VE - Quais são os principais produtos que a Polónia exporta para Portugal e quais os produtos que importa?
DB - Entre os principais produtos polacos exportados para Portugal destacam-se veículos, navios, máquinas digitais, aparelhos de ar condicionado, cosméticos, medicamentos, produtos de tabaco, velas, produtos da linha branca, carne, trigo, artigos de couro, alumínio, mobiliário e produtos químicos.
Por outro lado, importamos de Portugal fios, cabos elétricos, frutas, vinho, têxteis, cortiça, vestuário e medicamentos. Tra- ta-se de uma relação comercial bastante diversificada, o que é um sinal positivo para o fortalecimento da cooperação entre os dois países.
VE - Em que setores vê mais potencial para o crescimento das exportações portuguesas para a Polónia e das exportações polacas para Portugal?
DB - Há várias áreas com potencial. Para a Polónia, um setor prioritário neste momento é a energia e a descarbonização, onde Portugal tem uma experiência muito mais avançada em energias renováveis. No setor automóvel, há também espaço para inovação. Além disso, a indústria alimentar e o vinho português são segmentos muito interessantes.
Para as empresas portuguesas, uma grande oportunidade irá surgir quando começar a reconstrução da Ucrânia. Sendo a Polónia um país vizinho, seremos um ponto estratégico para empresas interessadas em participar nesse processo, especialmente no setor da construção.
Também há potencial no setor tecnológico, com várias oportunidades de colaboração. A iniciativa Startup Portugal e a "Fábrica de Unicórnios" podem ser portas de entrada interessantes para startups polacas no mercado português. Além disso, tecnologias para o tratamento da água e infraestruturas são setores onde as empresas polacas têm um know-how significativo e poderiam trazer soluções inovadoras para Portugal.
VE - Como avalia o impacto da presença de grandes empresas portuguesas na Polónia, como o Jerónimo Martins e o Millennium BCP?
DB - A presença dessas empresas foi um passo muito corajoso e estratégico. A Jerónimo Martins, por exemplo, tem uma grande presença na Polónia e facilita a entrada de produtos alimentares polacos no mercado português, através da sua marca Pingo Doce.
Além disso, a presença de empresas portuguesas de grande porte ajudou a atrair outras empresas para o mercado polaco. Atualmente, temos cerca de 150 empresas portuguesas na Polónia, muitas das quais decidiram investir porque já existia uma estrutura e apoio financeiro, como o proporcionado pelo Millennium BCP. Este intercâmbio empresarial aproxima ainda mais os dois países.
VE - Para além das grandes empresas, existem oportunidades para pequenas e médias empresas portuguesas na Polónia?
DB - Sem dúvida! A Polónia tem um mercado de 38 milhões de consumidores, o que é um fator importante. Além disso, a nossa localização na Europa Central faz da Polónia uma excelente plataforma para expandir para outros países vizinhos.
Também temos zonas económicas especiais que oferecem incentivos às empresas que se instalam no país. Em Lisboa, temos um escritório de promoção comercial da Polónia, que fornece apoio às empresas interessadas em entrar no mercado polaco.
VE - A reconstrução da Ucrânia será uma grande oportunidade para o setor da construção?
DB - Com certeza. A Polónia será um centro logístico e estratégico para a reconstrução da Ucrânia. Por isso, o setor da construção será um dos mais beneficiados. Empresas portuguesas que se instalem na Polónia poderão ter mais facilidade de acesso a esse mercado.
Além disso, tecnologias inovadoras, como casas modulares e construção rápida, podem ser uma solução para os desafios da falta de mão de obra. Na Polónia, já existem empresas a desenvolver sistemas semelhantes a "Lego" para construção, o que facilita a montagem e reduz os custos. Algumas dessas empresas já demonstraram interesse em investir em fábricas em Portugal.
VE - O aumento do investimento em defesa poderá criar oportunidades para a indústria portuguesa?
DB - Sim, sem dúvida. A defesa europeia é uma das prioridades da Polónia e da União Europeia. Nos últimos anos, perdemos parte da capacidade de produção de armamento e agora precisamos de reconstruir essa indústria.
A colaboração entre países da UE será essencial para essa reindustrialização. As empresas portuguesas podem ter um papel nesse processo, especialmente no desenvolvimento de tecnologias inovadoras na área da defesa e segurança.
VE - O intercâmbio académico entre Portugal e a Polónia também tem aumentado. Como vê essa tendência?
DB - O Programa Erasmus tem sido uma das melhores iniciativas da União Europeia para estreitar laços entre países. Atualmente, Portugal é o segundo destino mais procurado pelos estudantes polacos no âmbito do Erasmus. Isso fortalece os contactos entre os jovens e contribui para uma maior proximidade cultural. O número de estudantes portugueses na Polónia também tem aumentado. O que os atrai? Certamente não é o clima! [risos] Mas há outras vantagens, como o custo de vida mais baixo em comparação com outros países europeus e a qualidade do ensino superior.
Além disso, muitos estudantes portugueses regressam entusiasmados com a experiência e recomendam a Polónia a outros colegas, o que contribui para o aumento das trocas académicas e turísticas.
Em entrevista à "Vida Económica" a embaixadora da Polónia em Lisboa considera que o mercado polaco será estratégico para empresas interessadas em participar nesse processo, especialmente no setor da construção. Dorota Barys destaca o crescimento acentuado das trocas comerciais entre os dois países e o facto de Portugal ser o segundo destino mais procurado pelos estudantes polacos em mobilidade no âmbito do Programa Erasmus.
Polónia será um centro logístico e estratégico para a reconstrução da Ucrânia.
Vida Económica: Como avalia a evolução das trocas comerciais entre a Polónia e Portugal?
Dorota Barys - A tendência tem sido bastante positiva para nós, uma vez que registamos um excedente comercial. No final de 2023, esse excedente foi de 935 milhões de euros, num total de trocas comerciais de 2,84 mil milhões de euros. A Polónia exportou cerca de 1,9 mil milhões para Portugal, e esse valor tem vindo a crescer significativamente nos últimos oito anos, com um aumento de aproximadamente 250%. Isso demonstra um excelente desenvolvimento do comércio bilateral.
Além disso, a presença de empresas portuguesas na Polónia também está a crescer. No último ano, foram registadas mais de 150 empresas portuguesas no país, incluindo grandes grupos como o Jerónimo Martins e o Millennium BCP, mas também muitas pequenas e médias empresas que começam a expandir-se para o mercado polaco.
VE - Quais são os principais produtos que a Polónia exporta para Portugal e quais os produtos que importa?
DB - Entre os principais produtos polacos exportados para Portugal destacam-se veículos, navios, máquinas digitais, aparelhos de ar condicionado, cosméticos, medicamentos, produtos de tabaco, velas, produtos da linha branca, carne, trigo, artigos de couro, alumínio, mobiliário e produtos químicos.
Por outro lado, importamos de Portugal fios, cabos elétricos, frutas, vinho, têxteis, cortiça, vestuário e medicamentos. Tra- ta-se de uma relação comercial bastante diversificada, o que é um sinal positivo para o fortalecimento da cooperação entre os dois países.
VE - Em que setores vê mais potencial para o crescimento das exportações portuguesas para a Polónia e das exportações polacas para Portugal?
DB - Há várias áreas com potencial. Para a Polónia, um setor prioritário neste momento é a energia e a descarbonização, onde Portugal tem uma experiência muito mais avançada em energias renováveis. No setor automóvel, há também espaço para inovação. Além disso, a indústria alimentar e o vinho português são segmentos muito interessantes.
Para as empresas portuguesas, uma grande oportunidade irá surgir quando começar a reconstrução da Ucrânia. Sendo a Polónia um país vizinho, seremos um ponto estratégico para empresas interessadas em participar nesse processo, especialmente no setor da construção.
Também há potencial no setor tecnológico, com várias oportunidades de colaboração. A iniciativa Startup Portugal e a "Fábrica de Unicórnios" podem ser portas de entrada interessantes para startups polacas no mercado português. Além disso, tecnologias para o tratamento da água e infraestruturas são setores onde as empresas polacas têm um know-how significativo e poderiam trazer soluções inovadoras para Portugal.
VE - Como avalia o impacto da presença de grandes empresas portuguesas na Polónia, como o Jerónimo Martins e o Millennium BCP?
DB - A presença dessas empresas foi um passo muito corajoso e estratégico. A Jerónimo Martins, por exemplo, tem uma grande presença na Polónia e facilita a entrada de produtos alimentares polacos no mercado português, através da sua marca Pingo Doce.
Além disso, a presença de empresas portuguesas de grande porte ajudou a atrair outras empresas para o mercado polaco. Atualmente, temos cerca de 150 empresas portuguesas na Polónia, muitas das quais decidiram investir porque já existia uma estrutura e apoio financeiro, como o proporcionado pelo Millennium BCP. Este intercâmbio empresarial aproxima ainda mais os dois países.
VE - Para além das grandes empresas, existem oportunidades para pequenas e médias empresas portuguesas na Polónia?
DB - Sem dúvida! A Polónia tem um mercado de 38 milhões de consumidores, o que é um fator importante. Além disso, a nossa localização na Europa Central faz da Polónia uma excelente plataforma para expandir para outros países vizinhos.
Também temos zonas económicas especiais que oferecem incentivos às empresas que se instalam no país. Em Lisboa, temos um escritório de promoção comercial da Polónia, que fornece apoio às empresas interessadas em entrar no mercado polaco.
VE - A reconstrução da Ucrânia será uma grande oportunidade para o setor da construção?
DB - Com certeza. A Polónia será um centro logístico e estratégico para a reconstrução da Ucrânia. Por isso, o setor da construção será um dos mais beneficiados. Empresas portuguesas que se instalem na Polónia poderão ter mais facilidade de acesso a esse mercado.
Além disso, tecnologias inovadoras, como casas modulares e construção rápida, podem ser uma solução para os desafios da falta de mão de obra. Na Polónia, já existem empresas a desenvolver sistemas semelhantes a "Lego" para construção, o que facilita a montagem e reduz os custos. Algumas dessas empresas já demonstraram interesse em investir em fábricas em Portugal.
VE - O aumento do investimento em defesa poderá criar oportunidades para a indústria portuguesa?
DB - Sim, sem dúvida. A defesa europeia é uma das prioridades da Polónia e da União Europeia. Nos últimos anos, perdemos parte da capacidade de produção de armamento e agora precisamos de reconstruir essa indústria.
A colaboração entre países da UE será essencial para essa reindustrialização. As empresas portuguesas podem ter um papel nesse processo, especialmente no desenvolvimento de tecnologias inovadoras na área da defesa e segurança.
VE - O intercâmbio académico entre Portugal e a Polónia também tem aumentado. Como vê essa tendência?
DB - O Programa Erasmus tem sido uma das melhores iniciativas da União Europeia para estreitar laços entre países. Atualmente, Portugal é o segundo destino mais procurado pelos estudantes polacos no âmbito do Erasmus. Isso fortalece os contactos entre os jovens e contribui para uma maior proximidade cultural. O número de estudantes portugueses na Polónia também tem aumentado. O que os atrai? Certamente não é o clima! [risos] Mas há outras vantagens, como o custo de vida mais baixo em comparação com outros países europeus e a qualidade do ensino superior.
Além disso, muitos estudantes portugueses regressam entusiasmados com a experiência e recomendam a Polónia a outros colegas, o que contribui para o aumento das trocas académicas e turísticas.