A CALB China Aviation Lithium Battery já tomou a decisão de avançar com um investimento de €2 mil milhões numa fábrica de baterias em Sines, cuja construção deverá arrancar já no segundo trimestre deste ano, revelou ao Expresso a empresa chinesa, que é um dos 10 maiores fabricantes de baterias do mundo.
"Este investimento em Sines faz parte da nossa estratégia de longo prazo, com um compromisso com a sustentabilidade, a inovação e o desenvolvimento do mercado europeu", afirma a presidente do Conselho de Administração da CALB, Liu Jingyu.
Reconhecido como Projeto de Interesse Nacional (PIN), o investimento será formalmente apresentado na próxima segunda-feira, em Lisboa, num evento que deverá contar com o ministro da Economia, Pedro Reis, e que acontecerá apenas dois dias antes de a Comissão Europeia apresentar o Clean Industrial Deal, um pacote que visa estimular a aposta na descarbonização da indústria europeia, assente numa quota crescente de equipamentos fabricados no espaço comunitário. O esforço de Bruxelas visa reduzir a dependência europeia de fornecedores externos (e a China é um dos grandes vendedores de equipamentos essenciais à transição energética, como painéis solares, baterias e carros elétricos) e ganhar competitividade.
A presidente da CALB sublinha o impacto positivo que a fábrica de Sines terá na economia nacional. "Ao lançarmos a fábrica, estamos não só a criar 1800 empregos diretos, mas também a apoiar o desenvolvimento económico mais amplo de Portugal, promovendo o talento e contribuindo para o crescimento industrial do país", afirma em resposta por escrito às questões do Expresso.
O objetivo da empresa é reforçar a sua presença no mercado europeu de veículos elétricos e outros sistemas de armazenamento de energia. A fábrica deverá estar totalmente operacional em 2028, e nessa altura poderá produzir anualmente baterias com uma capacidade total de 15 gigawatts hora (GWh), o que será equivalente a cerca de 187 mil baterias para carros elétricos.
A executiva da CALB indica que "a estratégia de aprovisionamento [de materiais] para as instalações de Sines será tanto global como local", com o objetivo de assegurar "uma cadeia de fornecimento sustentável e resiliente". Mas não revelou quais os mercados onde a CALB irá buscar os componentes para a construção das baterias em Sines, referindo apenas que a empresa quer "criar parcerias alinhadas com os valores da inovação, da qualidade e da responsabilidade ambiental". Quanto ao destino da produção, refere que "o mercado primário para Sines será a Europa, onde continua a crescer a procura por soluções avançadas de baterias em sectores como o dos veículos elétricos e o armazenamento de energia".
O projeto chinês em Portugal ocorre num contexto desafiante para a indústria das baterias. No final do ano passado, a sueca North- volt, uma das promessas europeias neste sector, entrou em colapso e a Galp acabou por desistir do projeto para investir numa refinaria de lítio em Setúbal, no qual tinha como parceiro a Northvolt.
Em Portugal, um aviso lançado pelo Fundo Ambiental aprovou 43 candidaturas para projetos de baterias ligadas à rede elétrica, que terão direito a quase €100 milhões de subsídios (oriundos do Plano de Recuperação e Resiliência). A Iberdrola assegurou quase €20 milhões de apoios para seis projetos, entre várias outras empresas que foram selecionadas, mas no sector persistem dúvidas sobre a exequibilidade do prazo do aviso (ter os parques de baterias todos instalados até ao final deste ano).
A fábrica da CALB em Sines recebeu em março do ano passado, da Agência Portuguesa do Ambiente (APA), a Declaração de Impacte Ambiental (DIA) favorável condicionada, que viabiliza o licenciamento da infraestrutura. Em 2023, a empresa já havia contratualizado com a Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP) uma reserva de direito de superfície para cerca de 90 hectares, metade dos quais, na zona norte de Sines, serão efetivamente ocupados pela fábrica.
O licenciamento ambiental envolveu uma consulta pública, na qual se pronunciaram 124 cidadãos a título individual, a maioria dos quais contra a aprovação do projeto, contestando o curto espaço de tempo para a análise de documentos, o abate de cerca de 700 sobreiros e a dimensão da central solar que deverá ser construída na região para fornecer eletricidade à fábrica.
O anterior Governo chegou a estimar em €9 mil milhões o potencial de investimento na cadeia de valor das baterias em Portugal, sendo a infraestrutura de Sines um dos maiores projetos. Entretanto caiu o projeto da Galp e da Northvolt e a prospeção da Savannah Resources em Boticas foi alvo de uma providência cautelar. Percalços que não travaram, contudo, a vontade da CALB de avançar em Sines.
Liu Jingyu
Presidente da CALB
Porque escolheram Portugal para este projeto, em vez da China?
Escolhemos localizar a nossa 'gigafábrica' em Portugal devido às suas vantagens estratégicas, ao forte potencial da economia portuguesa e à mão de obra qualificada. O porto de Sines, em particular, oferece vantagens logísticas excecionais, que o tornam uma plataforma ideal para distribuir [as baterias] para o mercado europeu.
Este investimento é um compromisso de criação de emprego na Europa, mostrando aos líderes europeus que a China pretende criar valor cá e evitar pressões adicionais nas tarifas aos carros elétricos?
Na CALB estamos focados em criar valor pela inovação e colaboração, e não apenas em assumir considerações políticas. O nosso investimento em Portugal prende-se a um compromisso em fazer avançar os sectores europeus dos veículos elétricos e das baterias. O projeto está alinhado com a nossa visão de construir parcerias duradouras com os negócios europeus para um futuro com benefícios mútuos.
Preocupa-vos que o investimento em Sines possa ser afetado pela guerra protecionista?
As dinâmicas do mercado global são sempre consideradas, mas o nosso foco é a produção de tecnologia avançada e soluções que respondam aos desafios do mundo real. Temos total confiança no forte ambiente de negócios em Portugal e na Europa.
"Este investimento em Sines faz parte da nossa estratégia de longo prazo, com um compromisso com a sustentabilidade, a inovação e o desenvolvimento do mercado europeu", afirma a presidente do Conselho de Administração da CALB, Liu Jingyu.
Reconhecido como Projeto de Interesse Nacional (PIN), o investimento será formalmente apresentado na próxima segunda-feira, em Lisboa, num evento que deverá contar com o ministro da Economia, Pedro Reis, e que acontecerá apenas dois dias antes de a Comissão Europeia apresentar o Clean Industrial Deal, um pacote que visa estimular a aposta na descarbonização da indústria europeia, assente numa quota crescente de equipamentos fabricados no espaço comunitário. O esforço de Bruxelas visa reduzir a dependência europeia de fornecedores externos (e a China é um dos grandes vendedores de equipamentos essenciais à transição energética, como painéis solares, baterias e carros elétricos) e ganhar competitividade.
A presidente da CALB sublinha o impacto positivo que a fábrica de Sines terá na economia nacional. "Ao lançarmos a fábrica, estamos não só a criar 1800 empregos diretos, mas também a apoiar o desenvolvimento económico mais amplo de Portugal, promovendo o talento e contribuindo para o crescimento industrial do país", afirma em resposta por escrito às questões do Expresso.
O objetivo da empresa é reforçar a sua presença no mercado europeu de veículos elétricos e outros sistemas de armazenamento de energia. A fábrica deverá estar totalmente operacional em 2028, e nessa altura poderá produzir anualmente baterias com uma capacidade total de 15 gigawatts hora (GWh), o que será equivalente a cerca de 187 mil baterias para carros elétricos.
A executiva da CALB indica que "a estratégia de aprovisionamento [de materiais] para as instalações de Sines será tanto global como local", com o objetivo de assegurar "uma cadeia de fornecimento sustentável e resiliente". Mas não revelou quais os mercados onde a CALB irá buscar os componentes para a construção das baterias em Sines, referindo apenas que a empresa quer "criar parcerias alinhadas com os valores da inovação, da qualidade e da responsabilidade ambiental". Quanto ao destino da produção, refere que "o mercado primário para Sines será a Europa, onde continua a crescer a procura por soluções avançadas de baterias em sectores como o dos veículos elétricos e o armazenamento de energia".
O projeto chinês em Portugal ocorre num contexto desafiante para a indústria das baterias. No final do ano passado, a sueca North- volt, uma das promessas europeias neste sector, entrou em colapso e a Galp acabou por desistir do projeto para investir numa refinaria de lítio em Setúbal, no qual tinha como parceiro a Northvolt.
Em Portugal, um aviso lançado pelo Fundo Ambiental aprovou 43 candidaturas para projetos de baterias ligadas à rede elétrica, que terão direito a quase €100 milhões de subsídios (oriundos do Plano de Recuperação e Resiliência). A Iberdrola assegurou quase €20 milhões de apoios para seis projetos, entre várias outras empresas que foram selecionadas, mas no sector persistem dúvidas sobre a exequibilidade do prazo do aviso (ter os parques de baterias todos instalados até ao final deste ano).
A fábrica da CALB em Sines recebeu em março do ano passado, da Agência Portuguesa do Ambiente (APA), a Declaração de Impacte Ambiental (DIA) favorável condicionada, que viabiliza o licenciamento da infraestrutura. Em 2023, a empresa já havia contratualizado com a Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP) uma reserva de direito de superfície para cerca de 90 hectares, metade dos quais, na zona norte de Sines, serão efetivamente ocupados pela fábrica.
O licenciamento ambiental envolveu uma consulta pública, na qual se pronunciaram 124 cidadãos a título individual, a maioria dos quais contra a aprovação do projeto, contestando o curto espaço de tempo para a análise de documentos, o abate de cerca de 700 sobreiros e a dimensão da central solar que deverá ser construída na região para fornecer eletricidade à fábrica.
O anterior Governo chegou a estimar em €9 mil milhões o potencial de investimento na cadeia de valor das baterias em Portugal, sendo a infraestrutura de Sines um dos maiores projetos. Entretanto caiu o projeto da Galp e da Northvolt e a prospeção da Savannah Resources em Boticas foi alvo de uma providência cautelar. Percalços que não travaram, contudo, a vontade da CALB de avançar em Sines.
Liu Jingyu
Presidente da CALB
Porque escolheram Portugal para este projeto, em vez da China?
Escolhemos localizar a nossa 'gigafábrica' em Portugal devido às suas vantagens estratégicas, ao forte potencial da economia portuguesa e à mão de obra qualificada. O porto de Sines, em particular, oferece vantagens logísticas excecionais, que o tornam uma plataforma ideal para distribuir [as baterias] para o mercado europeu.
Este investimento é um compromisso de criação de emprego na Europa, mostrando aos líderes europeus que a China pretende criar valor cá e evitar pressões adicionais nas tarifas aos carros elétricos?
Na CALB estamos focados em criar valor pela inovação e colaboração, e não apenas em assumir considerações políticas. O nosso investimento em Portugal prende-se a um compromisso em fazer avançar os sectores europeus dos veículos elétricos e das baterias. O projeto está alinhado com a nossa visão de construir parcerias duradouras com os negócios europeus para um futuro com benefícios mútuos.
Preocupa-vos que o investimento em Sines possa ser afetado pela guerra protecionista?
As dinâmicas do mercado global são sempre consideradas, mas o nosso foco é a produção de tecnologia avançada e soluções que respondam aos desafios do mundo real. Temos total confiança no forte ambiente de negócios em Portugal e na Europa.