Entre os países europeus que têm vindo a reforçar o seu envolvimento no setor espacial, o Luxemburgo destaca-se pelo investimento consistente numa abordagem orientada para a inovação e a sustentabilidade. Apesar da sua dimensão à escala europeia, o país tem apostado de forma estratégica no desenvolvimento de uma economia espacial, procurando posicionar-se como um ator relevante num ecossistema altamente competitivo. Esta aposta remonta a cerca de quatro décadas, com a criação da Société Européenne des Satellites (SES), uma das primeiras empresas de comunicações por satélite na Europa, que marcou o início de um envolvimento mais estruturado do Luxemburgo neste domínio.
O Luxemburgo, membro da Agência Espacial Europeia (ESA) desde 2005, foi o primeiro país europeu a aprovar um quadro legal inerente à exploração e a utilização dos recursos espaciais. Este conjunto de leis, adotado em 2017 no âmbito da iniciativa da SpaceResources.lu, atualmente liderada pela Luxembourg Space Agency (LSA), permite que empresas sediadas no Grão-Ducado do Luxemburgo explorem e utilizem os recursos espaciais.
Esta aposta estratégica tem resultado num crescimento sustentado do setor ao longo da última década. Entre 2012 e 2022, o número de empresas ativas quadruplicou, passando de 16 para 67. Entre 2020 e 2022, foram criadas 19 novas empresas no setor. No mesmo período, os postos de trabalho em empresas espaciais cresceram de 639 (em 2012) para 1160 (em 2020), ou seja, mais que duplicaram (National Space Strategy 2023 – 2027 “Successes and impacts of the previous action plan”).
Em termos de investimento, o Luxemburgo dispendeu, em 2016, 123,5 milhões de euros nos programas obrigatórios e opcionais da ESA, e 115 milhões de euros para o programa nacional LuxIMPULSE. No âmbito do Plano de Ação Nacional para a Ciência e Tecnologia Espacial 2020–2024, reforçou este compromisso com 130,51 milhões de euros para programas da ESA e um orçamento nacional adicional de 80 milhões de euros, um aumento de aproximadamente 5,7% face a 2016.
Para além do quadro legal inovador, o Luxemburgo apostou também na criação de infraestruturas de excelência. Em parceria com a ESA, foi criado o European Space Resources Innovation Centre (ESRIC), o primeiro centro de inovação do mundo totalmente dedicado à investigação, desenvolvimento e utilização dos recursos provenientes do espaço. Com o apoio do Luxembourg Institute of Science and Technology (LIST) foi concretizado um investimento de cerca de 3 milhões de euros no ESRIC, tornando-o um dos centros de investigação científica de referência internacional.
O Luxemburgo afirmou-se como um hub europeu de análise de fenómenos meteorológicos espaciais, fruto da colaboração entre a startup Mission Space e o centro de investigação SnT (da Universidade do Luxemburgo). Esta dinâmica mostra a relevância desta indústria para o país, que representa cerca de 4% do PIB e mais de 80 empresas ativas e diversos centros de investigação especializados, assegurando mais de 1400 postos de trabalho.
O crescimento do ecossistema luxemburguês do setor espacial está alinhado com os objetivos da Estratégia Espacial Nacional 2023–2027, resultado de uma estratégia política que posiciona o setor espacial como um dos pilares da economia nacional, apoiando a inovação, a captação de talento, o financiamento de projetos estratégicos e a sustentabilidade.
Com uma base sólida já construída e uma visão clara para o futuro, o Luxemburgo tem vindo a consolidar uma posição relevante na economia espacial europeia. A aposta contínua em políticas públicas, o ambiente regulatório estável e os incentivos ao investimento sugerem perspetivas de crescimento no médio e longo prazo que justificam uma atenção particular por parte das empresas e entidades portugueses inseridas no setor espacial e tecnológico.