A Tekever não foi a única empresa europeia do sector da defesa a juntar-se ao grupo de unicórnios, isto é, empresas avaliadas em mais de mil milhões de dólares (cerca de €882 milhões ao câmbio atual). A Quantum Systems, empresa alemã de veículos aéreos não tripulados (drones), também ascendeu recentemente a esse Olimpo das startups com grande potencial de crescimento, depois de angariar €160 milhões numa ronda Série C, de acordo com a base de dados Pitchbook.
A Tekever, a Quantum e a alemã Helsing, que desenvolve soluções de software com base em inteligência artificial, são os únicos unicórnios europeus no sector da defesa (para já). Fruto da situação internacional, mais capital deverá fluir para estes projetos, beneficiando particularmente as startups com apostas inovadoras nesta área.
Até este mês as startups nacionais tinham angariado €93 milhões, segundo o portal Dealroom
“É óbvio que quando há investidores de primeira linha internacionais que valorizam uma empresa de base portuguesa em vários milhões de dólares isso é muito relevante. E os empreendedores que estão por trás das organizações que chegam a esse estatuto é porque alguma coisa fizeram de muito acertado para merecerem a confiança e esse tipo de avaliações”, diz ao Expresso Stephan de Moraes, presidente da Associação Portuguesa de Capital de Risco e de Desenvolvimento (APCRI). “Também é de notar que a Tekever está numa área particularmente apetecível, tendo em conta a situação geopolítica e a guerra na Ucrânia. É a empresa certa no momento certo, e a APCRI fica muito contente por haver mais uma firma que tenha atingido o estatuto de unicórnio.”
Os números do mercado português deverão disparar com o montante aplicado na Tekever, que, para já, é desconhecido. “Conjunturalmente, e sendo o mercado português um mercado muito pequeno, quando há uma ronda como a da Tekever isto distorce todos os registos”, sublinha o executivo. De acordo com dados do portal Dealroom, as startups portuguesas angariaram €92,8 milhões até ao início de maio, sem contar com o investido na Tekever.
Europa resiste
O panorama geral no sector de capital de risco europeu mostra alguma resiliência face à turbulência internacional, com os dados do primeiro trimestre a sugerirem novo ano de crescimento: o capital de risco europeu investiu €16,7 mil milhões nos primeiros três meses, o que, a manter-se o ritmo no resto do ano, se traduziria num crescimento de 10,8% em 2025 face a 2024, de acordo com dados do Pitchbook.
As particularidades do mercado português, como os prazos curtos para investimento da parte de fundos com financiamento público, deverão significar um aumento dos fundos aplicados junto das startups nacionais. “É certo que há uma grande capacidade de investimento de fundos SIFIDE [sistema de incentivos fiscais à inovação empresarial], o que também pode levar a que essa menor apetência por investir noutros países não se verifique em Portugal simplesmente porque há fundos que têm a obrigação de investir em determinados prazos”, sublinha Stephan de Moraes.