Até ao final do ano, estima-se que na UE o investimento VC europeu no setor atinja os 2,3 mil milhões de dólares, aponta estudo da Dealroom.
Com uma Europa à defesa, o investimento do capital de risco nas Defence Techs na União Europeia (UE) mais do que duplicou este ano, um crescimento de 132%, para 1,5 mil milhões de dólares. Até ao final do ano, estima-se que na UE o investimento VC europeu no setor atinja os 2,3 mil milhões de dólares. Lisboa está no Top 10 das cidades europeias que captou mais investimento para este setor desde 2019.
O “State of Defence Tech 2025”, da Dealroom, dá conta do investimento que está a ser canalizado pelo capital de risco para o ecossistema das startups de defesa. Aposta que na Europa tem vindo a crescer nos últimos três, situação a que não será alheia a guerra na Ucrânia. Desde a invasão russa, o investimento subiu de 432,9 milhões de dólares, para 691,4 milhões em 2023, tendo saltado para mil milhões no ano passado e, este ano, só até setembro, já superava essa fasquia, fixando-se nos 1,5 mil milhões.
Muito do investimento é feito por fundos sedeados na Europa. Em 2025, representam mais de metade (51%) do investimento, com 45% sedeados nos Estados Unidos, tendo-se assistido nos três últimos anos a um crescimento do número de investidores: de 184 em 2023, para 221 no ano seguinte e 225 até setembro, estimando a Dealroom que esse número suba para 321 até final do ano.
Esse crescimento poderá em parte ser atribuído ao nascimento de novos fundos dedicados ao setor — desde 2022, foram criados 23, cerca de três vezes mais do que em anos anteriores. Atualmente são 31 o número de fundos existentes, mas também ao facto de fundos deeptech, com startups a trabalhar com tecnologias de uso dual (por exemplo drones), estarem também a canalizar dinheiro para o setor de defesa, aponta a Dealroom.
Guerra da Ucrânia, a Europa a investir nos seus orçamentos de defesa até 2% do PIB e novos fundos a nascer resultam numa subida do investimento no setor. Até ao final do ano estima-se que supere os dois mil milhões.
Para esse crescimento, muito terão contribuído mega rondas, entre as quais os mais 600 milhões de dólares levantados pela alemã Helsing, numa ronda liderada pelo fundador do Spotify, Daniel Ek, chutando a avaliação da empresa para os 12 mil milhões de dólares, noticiou a Reuters.
Apesar de representar uma fatia ainda curta do investimento, a defesa é apontado este ano como o setor com o maior crescimento potencial. Pelo menos, é essa a estimativa da Dealroom.
Até setembro, o setor de defesa, segurança e resiliência ocupava a quinta posição, com 4,7 mil milhões de dólares de capital levantado; e o de defesa a nona posição, com 1,5 mil milhões, com a aposta nas fintechs a liderar o investimento VC, logo seguido do setor deeptech e o da saúde; estima-se que este ano assinale um crescimento de 132% (defesa), o maior do ano, seguido das fintechs (79%) e segurança (63%). Ao setor defesa é apontado um disparo de mais de 30%.
E no que toca à defesa onde optam por investir os VC na Europa? IA e defesa lidera com 2,1 mil milhões desde 2019 — cerca de mil milhões só em 2025 —, seguido de robótica e sistemas autónomos (766 milhões desde 2019, com 30 rondas este ano a elevar para 344 milhões o capital levantado) e a fechar o top 3, armas e sistemas de defesa, com 109,8 milhões levantado desde 2019 e, com três rondas a canalizar 107 milhões para esta categoria este ano.
No caso do segmento de robótica e sistemas autónomos, o investimento em UAV (drones) domina com 603,7 mil milhões a serem canalizados para este segmento desde 2019, tendo 267 milhões sido levantado este ano em 20 rondas, aponta o estudo da Dealroom. Num ano, o número de empresas dedicadas aos UAV mais do duplicou, voando de 376 no ano passado, para 943 em 2025.
EUA dominam investimento nos países NATO…Se estendermos a análise aos países NATO, incluindo os Estados Unidos, verifica-se que o investimento VC em aplicações de defesa e startups de defesa ainda é maior. Com megas rondas como as americanas Anduril — que em junho levantou 2,5 mil milhões de dólares, liderada pelo FoundersFund, para uma avaliação de 30,5 mil milhões —, Saronic (que em fevereiro levantou 600 milhões, para uma avaliação de quatro mil milhões — e Applied Intuition (levantou 600 milhões em junho para uma avaliação de 15 mil milhões a impulsionar o investimento VC para 9,1 mil milhões.
Um valor até setembro bem acima dos 6,5 mil milhões canalizados para o setor em todo o ano passado. Com este ritmo, estima-se que até ao final do ano as startups do setor obtenham 13,7 mil milhões de dólares de investimento VC para dar gás às suas operações.
Sem surpresa, entre os países NATO, os EUA lideram o investimento VC em defesa e em startups do setor. Desde 2019, representa 85% do investimento, com a UE a representar uma fatia de 10%.
Entre os países NATO, as Defence Tech representam agora 4,2% do total do capital europeu VC investido, valor que atinge os 6,2% se circunscrevermos a análise à UE. Uma subida alinhada com a decisão de aumentar para 2,1% o peso da defesa no Produto Interno Bruto (PIB).
…Alemanha domina na EuropaMas, se nos países NATO, os EUA dominam o investimento VC, na Europa essa liderança cabe à Alemanha. O país captou desde 2019, um total de 2 mil milhões (1,5 mil milhões só desde 2024); seguido do Reino Unido (mil milhões); Europa do Sul (465,5 milhões) e França (428,1 milhões).
Portugal no TOP 10Na análise mais fina, Portugal também surge em destaque. Não só o Sul da Europa surge na terceira posição, como se analisarmos por cidades, embora Munique domine — cidade que acolhe a Helsing —, seguida de Londres e Paris, com dois mil milhões e 485 milhões captados, respetivamente, desde 2019, Lisboa surge no Top 10, na oitava posição, com 98 milhões de euros captados, acima de Amesterdão (52 milhões) e Madrid (47 milhões).
Este ano, Portugal viu nascer em maio o seu primeiro unicórnio na área de defesa e o sétimo em termos globais, a Tekever.
A scaleup, cofundada por Ricardo Mendes, saltou para uma avaliação de de mais de mil milhões de libras (mais de 1,2 milhões de euros), depois de uma ronda, cujo valor não foi revelado, totalmente subscrita pelos atuais investidores, incluindo o líder de ronda Ventura Capital, Baillie Gifford, o NATO Innovation Fund (NIF), Iberis Capital e Crescent Cove.