O acordo entre os países do Mercosul e a União Europeia com o objetivo de criar uma das maiores zonas de livre comércio do mundo continua num impasse.
Quase um ano depois ter sido assinado, e após mais de 25 anos de negociações, ainda não há luz verde da União Europeia e os especialistas presentes na segunda edição do EuroAmericas Fórum dividem-se entre o otimismo e o receio de que possa vir a cair.
"Neste momento existem 80 deputados indecisos e que são a chave deste problema. A minha preocupação é não conseguirmos ter uma maioria para passar no Parlamento Europeu. Será trágico e catastrófico para a União Europeia se perdermos este acordo", referiu Hélder Sousa Silva, membro do parlamento europeu e presidente da delegação para as relações com a República Federativa do Brasil, no evento promovido pelo Conselho da Diáspora Portuguesa, que decorreu na Nova SBE, em Carcavelos, a 17 e 18 de novembro.
No painel 'Mercosul-Europa - Um Pacto de Longo Prazo para o Crescimento', Gabriel Petrus, antigo chefe de parcerias estratégicas na Câmara Internacional de Comércio do Brasil, assumiu que é preciso garantir que os países do G-20 estão com a Europa. "A Europa tem de sair da encruzilhada com os Estados Unidos e a China", afirmou.
Já Paolo Garzotti, chefe da unidade da América Latina e direção-geral para o comércio e segurança económica na Bélgica, realçou que este acordo tem o conjunto de compromissos sustentáveis mais negociado de sempre.
"Se algum dos países do Acordo de Paris sair, este acordo cai automaticamente. Temos um sistema de medidas legais que nos permite desafiar os países do Mercosul, caso esses compromissos não sejam cumpridos", salientou.
Na vertente logística, Nuno Rangel, CEO da Rangel Logistics Solutions, assumiu que todo o setor está com elevadas expectativas.
"Na nossa área haverá muitas oportunidades. Há quem fale num aumento de 30% nas exportações do Mercosul para a Europa e de 25% da Europa para o Mercosul, mas podemos duplicar aquilo que foram os últimos 10 anos", referiu.
Por seu turno, Paulo Matheus, coordenador do escritório da ApexBrasil para Portugal e CPLP salientou que o principal desafio deste acordo passa por alinhar as exigências europeias e atender as exigências de sustentabilidade. "Este acordo coloca desafios importantes, mas que podem aumentar o nível competitivo do Brasil", afirmou.
Do lado da banca, Pedro Monteiro Coelho, diretor executivo de marketing corporativo do BPI, sublinhou que este acordo tem um grande potencial para dinamizar oportunidades de negócio. "Pode catapultar não só as exportações de Portugal para o Mercosul, mas também de outros países", referiu.
Sem acordo até dezembro? "Será um rotundo falhanço"
Quem também abordou o impasse neste acordo foi José Manuel Durão Barroso, chairman do EuroAmericas Fórum."
O acordo Mercosul "continua a ser travado, o que não tem qualquer justificação e há uma ideia errada de que seja mau para os nossos produtores. Não estamos a favor do protecionismo, queremos dar amplitude à relação transatlântica", afirmou o antigo presidente da Comissão Europeia.
Por sua vez, Paulo Rangel, ministro dos Negócios Estrangeiros, deixou o alerta de que, "se chegarmos a dezembro sem um acordo, será um rotundo falhanço",
O governante, que também ocupa um lugar na direção do Conselho da Diáspora Portuguesa, sublinhou a retração "legítima" dos EUA em termos comerciais, algo que introduziu "um fator de algum ceticismo", num contexto em que fomos educados que a abertura comercial "era um fator saudável", com jcl
Foi sob o signo da longevidade que o Presidente da República, Marcelo Rebelo de S
Marcelo destacou cargos de Portugal a nível mundial
Política O Presidente da República fez um balanço do que testemunhou nos dez anos em que ocupou o cargo de chefe de Estado.
Foi sob o signo da longevidade que o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, discursou no EuroAmericas Fórum 2025, salientando que esta é "uma oportunidade global".
"É o tema do momento não só enquanto domínio científico, saúde, social ou demográfico: naturalmente que levanta problemas à saúde e à segurança social, mas traz oportunidades", destacou o chefe de Estado.
"Nós, os mais velhos, vivemos num mundo bipolar entre EUA e União Soviética durante três décadas, vimos cair o muro de Berlim e emergir os tigres asiáticos. O crescimento, o desenvolvimento, o choque tecnológico e o agudizar das clivagens mundiais: assistimos a tudo", salientou.
Em jeito de balanço do que testemunhou em dez anos de mandato, Marcelo fez um resumo do que tem presenciado desde 2016.
"Deparamo-nos todos com o regresso ao protecionismo, nacionalismo, à recusa do diferente, ao poder dos mais fortes, ao colapso em tantas pátrias. Muito do que era incorreto é agora correto", sublinhou.
O Presidente da República afirmou que "há uma esquizofrenia nestes dias".
"Em vez do G7, G8 ou G20, temos um G2 (EUA e China) ou um G2 e meio, com a Rússia a acomodar-se a estes dois. Este duopólio não apaga o resto do mundo nem a UE por maiores que sejam as suas fraquezas".
De regresso ao tema da longevidade, Marcelo Rebelo de Sousa disse acreditar que há coisas que "as modas não apagam por completo".
"Há coisas que a longevidade traz consigo que as modas não apagam por completo. A noção do tempo ajuda a relativizar as dúvidas do presente. O presente é relativo, mas a longevidade não é", sublinhou.
"Sem a rutura de 1974 não teríamos cargos de influência ao nível mundial e europeu, mas, antes disso, tornámo-nos conhecidos em todo o mundo. A nossa longevidade tem cumplicidade, tem lastro, mas para alimentar isso é preciso construir novas pontes todos os dias", concluiu, jcl
"Temos uma diáspora altamente qualificada, afirma João Rui Ferreira
O secretário de Estado da Economia considera que a presença dos portugueses no mundo é fundamental para ajudar o país a crescer e destacou a importância da relação com os EUA.
O secretário de Estado da Economia, João Rui Ferreira, aproveitou esta conferência para elogiar a presença dos portugueses no mundo.
"Hoje temos uma diáspora altamente qualificada. É impossível perceber o mundo sentados a partir do nosso escritório em Lisboa. Os soft skills vão ser fundamentais para fazer negócios e estar presente nas cadeias globais", afirmou.
João Rui Ferreira abordou também a importância da relação entre Portugal e o continente americano.
"É decisivo para a competitividade das nossas indústrias. Os mercados americano e canadiano têm um valor aquisitivo muito elevado, um papel decisivo sobre a margem que conseguimos reter", salientou.
Sobre o crescimento económico, João Rui Ferreira considerou que é uma "prioridade estratégica para o Governo" e que a longevidade ativa deve ser uma "alavanca" ao desenvolvimento da economia, pois é fundamental que todos tenham um papel na sociedade.
"O crescimento económico sustentado exige uma base industrial forte, energias limpas, novos materiais e integrar cadeias de valor criativas. Sem indústria é mais difícil ter uma economia forte e coesão territorial", explicou o governante.
A necessidade de a América Latina e Portugal voltarem a cooperar entre si, de forma a desenvolverem modelos de negócio que beneficiem as duas partes, foi o tema abordado por Angel Cardenas, gestor de infraestruturas para o desenvolvimento urbano e cidades criativas do CAF Banco de Desenvolvimento da América Latina e do Uruguai.
O gestor salientou a necessidade de uma visão a longo prazo para que seja possível ter êxito económico entre as duas regiões.
"Ambos os países têm um grande potencial de colaboração. É preciso identificar as oportunidades", referiu.
Angel Cardenas deixou ainda o alerta para o problema da longevidade na América Latina, que poderá afetar a região seriamente dentro de 25 anos.
"Em 2050, uma em cada 5 pessoas da América Latina terá 65 anos e passará dos 8% para os 25% da população. É preciso apostar na estabilidade social e política. Este envelhecimento poderá custar 7,3 triliões de dólares em 2050", disse. Com RAR
Português é "grande trunfo nos negócios", diz AICEP. Joana Gaspar, diretora da AICEP, definiu Portugal como "uma economia pequena assente nas relações económicas externas" e nestas relações, explicou a responsável, "a confiança demora muito a construir e é essencial". A responsável destacou que a AICEP tem uma rede internacional de mais de 50 mercados essencialmente na Europa e nas Américas. "Mapeamos os empresários de origem portuguesa, bem como as empresas que investem em mercados estrangeiros. A língua portuguesa é um grande trunfo para o negócio, promove relações fortes", sublinhou.
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Comércio
Queda do acordo entre Europa e Mercosul?"Será trágico para a UE"
"Se chegarmos a dezembro sem um acordo será um rotundo falhanço", diz Paulo Rangel.
Jornal Económico
24/11/2025
Imprensa Nacional