Portugal pode crescer mais de 3% ao ano, segundo a Católica em estudo pedido pela Euronext e AEM
O futuro de Portugal que se pode perspectivar é ser um dos campeões da economia europeia, defendeu o Dean da Universidade Católica. "A nossa análise conclui que cada milhão de euros investidos em I&D em Portugal gera, em média, 8 postos de trabalho qualificados, através dos efeitos diretos e indiretos na economia", disse Filipe Santos.
O Professor Filipe Santos, Dean da Católica-Lisbon, apresentou os resultados do relatório: Portugal as a Prime Investment Destination: Infrastructure & Innovation at the Core que põem Portugal como bem posicionado para ser um dos campeões da economia europeia.
As principais conclusões são que Portugal está a consolidar-se como um dos destinos de investimento mais competitivos da Europa, sustentando o seu desempenho económico recente em transformações estruturais de longo prazo.
O país alia estabilidade macroeconómica, capital humano altamente qualificado, infraestruturas energéticas e digitais avançadas e um ecossistema de inovação dinâmico, que em conjunto reforçam a sua atratividade para o investimento global.
Uma economia, tipicamente, cresce por três fatores. Um fator é quando se consegue incorporar conhecimento na economia de forma a aumentar a produtividade e isso ajuda em cerca de 1% ao ano. Por sermos um país atrativo para pessoas e talento, este valor de trabalho pode aumentar. A segunda parte é quando se consegue aumentar o número de pessoas que estão empregadas e a terceira parte é a intensidade do investimento. Da intensidade do investimento depende o impulso da economia portuguesa, defendeu Filipe Santos.
O investimento está a recuperar, apesar de ser ainda tímido. O ponto aqui é que nós, com o potencial de desenvolvimento do capital humano que temos por ser um país atrativo para pessoas e talento, este 1% de conhecimento pode aumentar e se tivermos um aumento do investimento em Portugal, conseguimos também aumentar a intensidade do investimento, o que pode levar a economia a crescer de forma consistente e consolidada, acima de 3% nos próximos anos, disse o Dean da Católica numa apresentação a jornalistas do estudo Portugal as a Prime Investment Destination: Infrastructure & Innovation at the Core que vai ser apresentado hoje no Portugal Capital Markets Day 2025.
O que vai de encontro ao que disse esta terça-feira o ministro de Estado e das Finanças, Joaquim Miranda Sarmento, que defendeu que o Produto Interno Bruto (PIB) português poderá crescer 3% ao ano se se reduzir a burocracia e Portugal continuar a atrair mão de obra.
O responsável da Universidade Católica diz que acha que isto é possível porque há um conjunto de fatores estruturais e de capital humano e de ecossistema de inovação que permitem que haja essa transformação da economia portuguesa.
O relatório foi desenvolvido pelo Centro de Estudos Aplicados Católica Lisbon (UCP), a convite da Euronext e AEM, inserido como uma das ações do Portugal Capital Markets Day 2025, e dá continuidade ao estudo publicado em 2024 sobre as tendências estruturais da economia portuguesa, aprofundando agora os fatores críticos que sustentam o seu posicionamento num contexto geopolítico em rápida transformação.
O estudo analisa a evolução destas duas dimensões, Infraestrutura e Inovação, como pilares transversais de competitividade, destacando as áreas onde Portugal possui vantagens comparativas e oportunidades de investimento significativas.
A análise demonstra que o forte desempenho económico registado entre 2022 e 2025 não é circunstancial, mas resultado de motores sustentáveis de crescimento, como o reforço do capital humano, a modernização das infraestruturas e a consolidação de um ecossistema de inovação com impacto económico e social duradouro.
O relatório identifica ainda áreas de investimento emergentes, desde centros de I&D e tecnologias avançadas até energia, economia azul, logística e manufatura de elevado valor acrescentado, reforçando a visão de Portugal como um destino estratégico para investimento sustentável, inovação e talento global.
Filipe Santos realçou que o Governo está numa política contracíclica de poupança e de excedentes orçamentais, e isso é quase o único na economia europeia. Em 26 países, talvez haja três que têm excedente orçamental, Portugal é um deles.
Segundo o Dean da Católica, o que aconteceu é que Portugal se tornou, a partir de 2021, 2022, atrativo para capital e talento. Para o economista o fenómeno da imigração, e não necessariamente a imigração de baixa qualificação, tanto a de baixa qualificação como a de elevada qualificação, permitiu reverter o peso do envelhecimento da população e a inércia grande da economia portuguesa. A população e a população ativa estavam a diminuir todos os anos, e isso puxa para baixo a economia.
A partir de 2019, o saldo migratório torna-se claramente positivo. Portanto, as pessoas que saem são muito menos do que as pessoas que chegam para serem residentes e para trabalharem, disse.
Explicou ainda que a partir de certa altura, conseguiu inverter-se o crescimento da população, em vez de ser negativo, passou a ser positivo. Depois reforçou-se e todos os anos acrescentamos à população residente, cerca de 100 mil pessoas, 1% da população., a maior parte dos quais integra-se no mercado de trabalho.
Portanto, todos os anos, a economia cresce 1% só por termos mais pessoas a trabalhar, a consumir, a produzir, a criar riqueza. Porquê que isto é bom e é sustentável? Porque, ao contrário de muitos outros países, Portugal tem uma imigração que, na sua grande maioria, é próxima culturalmente, linguisticamente, religiosamente e também com elevada qualificação. Ou seja, 50% da imigração vem do Brasil ou dos países de expressão portuguesa; portugueses africanos de expressão portuguesa, portanto, muito fáceis de integrar no mercado de trabalho, defende o Dean da Católica.
A análise da população empregada em idade ativa revela que desde 2019 dois países se destacam, a Espanha e Portugal, acima de todos os outros. Ou seja, em 5 anos, passámos de uma base de 100 pessoas ativas para cerca de 106. Portanto, cresceu 6% a população ativa, revela o estudo.
Hoje em dia, temos o desemprego a um baixo nível recorde, temos 5,8% de desemprego. Temos o emprego no valor máximo de 5,3 milhões de pessoas a trabalhar ativamente, a produzir, a pagar impostos, a pagar as contribuições sociais, o que também ajuda as contas públicas. O que permite que o Estado consolide a sua posição, mantendo os apoios sociais, destaca Filipe Santos.
Portugal bem posicionado mesmo em contexto adverso
Filipe Santos falou do risco da política tarifária da administração Trump que pode prejudicar a economia portuguesa e europeia. É verdade, no entanto, que da nossa análise o mercado americano representa apenas 7% das exportações portuguesas. Da nossa análise, se as tarifas no nível atual vão um bocadinho acima, o impacto no PIB seria menos de 1% (de 0,1%). Obviamente haveria dor em alguns setores mais específicos.
Outro risco prende-se com o aumento da incerteza geopolítica, se houver um escalar de conflito entre a Ucrânia e a Rússia, ou um arrefecimento das relações com a China, pode haver um cenário onde as tensões aumentem muito. Mas eu acho que, ironicamente, nesse cenário, Portugal sai beneficiado. Porque será necessário muito mais investimento da Europa em defesa e autonomia estratégica, porque Portugal é o local mais seguro da Europa, longe dos conflitos, uma ponte para a América e para a África e, portanto, no contexto atual, mesmo com um cenário de maior tensão geopolítica, Portugal pode ser beneficiado, defendeu.
Portanto, qual é a razão para ser otimista? São as vantagens estruturais que a economia portuguesa desenvolveu nos últimos anos e que podem potenciar um ciclo de investimento produtivo e criação de riqueza, disse.
Quais as vantagens de Portugal (uma delas é que temos energia barata)
O futuro está ligado às vantagens que Portugal tem em energia renovável, em telecomunicações, em recursos naturais, em fontes de financiamento para a economia, em capital humano e em ecossistema de inovação.
Nós conseguimos ter 35% da energia a vir de fontes renováveis, o que no contexto europeu é, de facto, singular. A vantagem traduz-se numa redução dos preços da energia, especialmente para clientes industriais, defende. Nós temos um custo de energia abaixo da média europeia neste momento e a economia digital, os centros de dados, a reindustrialização faz-se com a energia barata. O facto de termos energia barata é um fator competitivo importantíssimo neste processo de investimento que vai decorrer nos próximos anos na Europa, acrescenta.
Portanto além da localização segura e estratégica, temos a energia barata. Outro elemento é que hoje em dia a economia digital faz-se de conectividade, de telecomunicações e Portugal, fruto dos investimentos que foram feitos, tem uma situação também singular tanto no wireless, no 5G, onde temos 100% do país coberto com 5G, como no broadband da fibrótica, onde sempre fomos fortes e agora temos 90% e muitos do país coberto. Portanto, em termos de conectividade, temos uma posição também singular o que é fundamental para a economia digital.
Ao mesmo tempo, somos o ponto de interconexão dos cabos submarinos que vêm da América, da América Latina, de África, e há grandes investimentos em cabos submarinos que vão desembarcar na costa portuguesa em Sines. O que faz com que sejamos um hub de conexão para toda a Europa, acrescentou.
Aumento da produtividade agrícola e florestal
Filipe Santos numa longa apresentação aos jornalistas na sede da Euronext Lisbon falou também de uma transformação que foi invisível, mas que aconteceu na última década, referindo-se ao aumento muito grande da produtividade agrícola e florestal.
Em termos de recursos naturais, apesar de ter um país pequeno em dimensão, temos características únicas. Temos uma grande área florestal, com um tipo de árvore muito competitiva, produtiva para a indústria de pasta e papel e daí termos grandes empresas de pasta e papel, incluindo a Navigator, que é um dos líderes mundiais neste setor e é a empresa portuguesa com maior valor económico acrescentado, porque tem a integração vertical desde a floresta à produção eficiente e à venda e marcas fortes. Temos a maior indústria de cortiça do mundo, representamos 50% do mercado mundial de cortiça, (20:12) com líderes mundiais como a Cortiça Amorim, referiu.
Somos top 5 no mundo em exportação de azeite e, obviamente, temos uma indústria vinícola de vinhos, que tem uma relação de qualidade preço, eu diria, única no panorama mundial, acrescentou.
Filipe Santos atribui isto ao bom uso da água e lembra que o projeto do Alqueva foi transformador para o sul de Portugal, a área irrigada aumentou muito e a produtividade agrícola aumentou. De notar que nós temos um bom sistema de reservatórios de água, de albufeiras, para todo o país. Nós, no pico do Verão, tínhamos a reserva de água acima de 70%, o que é acima da média histórica. Temos uma Estratégia Nacional da Água bem pensada que vai permitir que a água seja um recurso estratégico e não escasso para os próximos anos para a economia portuguesa.
Uma outra nota, a água é fundamental para a economia digital, para o arrefecimento dos centros de dados que precisam de espaço, de energia e de água, lembrou.
Depois a chamada economia azul, é um potencial ainda emergente, mas que vai criar novas oportunidades de investimentos. Temos ainda um setor de aquacultura que está em tremendo crescimento e que duplicou em menos de uma década, sublinhou.
Temos também as maiores reservas de lítio da Europa, 60 mil toneladas métricas, o que é o maior da Europa e é um componente essencial para a eletrificação. Para a autonomia estratégica da Europa face ao resto do mundo estas reservas são fundamentais. Além também de termos alguns minerais essenciais, acrescentou.
No financiamento, reconheceu que atravessámos momentos difíceis que o nosso sistema bancário, mas que hoje em dia temos um sistema bancário sólido, dos mais sólidos da Europa, que tem um rácio de capital acima dos 20% pelo que há capacidade de concessão de crédito. Por outro lado somos muito avançados na questão dos sistemas de pagamento.
Filipe Santos destacou que temos conseguido ter empresas muito inovadoras, que, por exemplo, quem vai garantir da segurança do Eurodigital, vai ser feito, primeiramente, a portuguesa, a Feezai, o unicórnio na área da Cibersegurança e IA.
Nos últimos dois anos, atingimos a média europeia em termos de poupança. Esta poupança vai para os bancos, vai para o mercado de capitais, e pode ser canalizada em investimentos e, portanto, em termos financeiros, condições e, havendo também uma expansão dos mercados de capitais, como desejamos, há condições para financiar e apoiar o crescimento da economia portuguesa, frisou.
Tudo isto para dizer que todas estas condições permitem projetos industriais de grande escala. Um deles é o Hub de Sines, um dos portos de água profunda maiores da Europa.
Foi criado em Sines um Data Center que tem várias fases de implementação, mas a primeira fase já está concluída e, ao operar, e pode ser um dos maiores da Europa. O investimento, na sua conclusão, será cerca de 3 bilhões de euros.
Temos agora a informação de um contrato com uma empresa chinesa de produção de baterias fotovoltaicas na zona de Sines. Temos projetos de hidrogénio verde da Repsol e da Galp. Temos todo um cluster industrial e energético na área de Sines. Está-se a criar aqui, digamos, um polo de desenvolvimento industrial da economia portuguesa, referiu.
Importância do capital humano
Mas uma economia não se desenvolve sem reforçar o seu capital humano e sem ter incorporação de conhecimento, defendeu.
O investimento de qualificação e do capital humano português foi enorme nos últimos anos, sem igual, comparando com outros países, o que permite a convergência e até a ultrapassagem de Portugal em relação a alguns países, como a Itália, em termos da qualificação da sua força de trabalho. Isto é muito importante para aquele 1% da incorporação de conhecimento, revelou. Tem havido um reforço da dimensão do ensino superior universitário em Portugal. Isto é possível porque o setor universitário tem uma elevada qualidade e permite atrair alunos internacionais, cientistas internacionais, para trabalharem e produzirem em Portugal, o que permite contornar a crise demográfica.
O crescimento da economia vai-se fazer através da atração de talento e da produtividade que esse talento tem na economia, defendeu.
Por outro lado, estamos muito atrativos para os milionários do mundo. Uma consultora apontou que este ano é esperado ascender a 1.400 os novos milionários que chegam a Portugal, é a sétima posição mundial.
Disse também que Portugal hoje em dia não é só Lisboa, é multipolar, em termos de ecossistema de inovação o que é importante para a consolidação do potencial de crescimento. Por exemplo temos um cluster aeronáutico em Évora. Coimbra gerou a Critical Software, uma das maiores empresas de software nacionais com parcerias internacionais.
O país tem hoje manufatura de elevada qualidade, só para dar um exemplo, os sapatos portugueses estão no ranking dos segundo melhores do mundo, depois da Itália, apontou.
Portugal está muito bem posicionado em áreas que vão ser de forte crescimento no futuro, disse o economista.
Quatro oportunidades de investimento
Há quatro de oportunidades de investimento que se destacam. Uma é Saúde, Indústria Farmacêutica e Biotecnologia. Outra os Centros de Competência das Empresas Multinacionais. Outra a Digital/Cloud Industrie e outra ainda Defesa e Drones, referiu.
Na Saúde, Indústria Farmacêutica e Biotecnologia temos centros de investigação e ciência do melhor que se faz no mundo.
Há cerca de 5 biliões de euros de exportação da indústria farmacêutica portuguesa, revelou.
A nossa análise conclui que cada milhão de euros investidos em I&D em Portugal gera, em média, 8 postos de trabalho qualificados, através dos efeitos diretos e indiretos na economia, disse Filipe Santos.
Temos em Portugal centros de competência em serviços de elevado valor acrescentado de multinacionais. Por exemplo o BNP Paribas foi o maior recrutador qualificado de Portugal nos últimos sete anos, tem 10 mil pessoas a trabalha em centros de competência.
Vai ser necessário um enorme investiment0 na Europa em Data Centers para a economia digital e todas as fases da cadeia de valor. Portugal está bem posicionado para ser um dos motores da economia digital na Europa.
Finalmente temos a defesa onde vai haver enormes investimentos. Temos algumas empresas de fornecimento de componentes, e temos um indústria de metalomecânica com enorme qualificação. Temos empresas da área dos drones e da aeronáutica.
O futuro de Portugal que se pode perspectivar é ser um dos campeões da economia europeia, defendeu o Dean da Universidade Católica. "A nossa análise conclui que cada milhão de euros investidos em I&D em Portugal gera, em média, 8 postos de trabalho qualificados, através dos efeitos diretos e indiretos na economia", disse Filipe Santos.
O Professor Filipe Santos, Dean da Católica-Lisbon, apresentou os resultados do relatório: Portugal as a Prime Investment Destination: Infrastructure & Innovation at the Core que põem Portugal como bem posicionado para ser um dos campeões da economia europeia.
As principais conclusões são que Portugal está a consolidar-se como um dos destinos de investimento mais competitivos da Europa, sustentando o seu desempenho económico recente em transformações estruturais de longo prazo.
O país alia estabilidade macroeconómica, capital humano altamente qualificado, infraestruturas energéticas e digitais avançadas e um ecossistema de inovação dinâmico, que em conjunto reforçam a sua atratividade para o investimento global.
Uma economia, tipicamente, cresce por três fatores. Um fator é quando se consegue incorporar conhecimento na economia de forma a aumentar a produtividade e isso ajuda em cerca de 1% ao ano. Por sermos um país atrativo para pessoas e talento, este valor de trabalho pode aumentar. A segunda parte é quando se consegue aumentar o número de pessoas que estão empregadas e a terceira parte é a intensidade do investimento. Da intensidade do investimento depende o impulso da economia portuguesa, defendeu Filipe Santos.
O investimento está a recuperar, apesar de ser ainda tímido. O ponto aqui é que nós, com o potencial de desenvolvimento do capital humano que temos por ser um país atrativo para pessoas e talento, este 1% de conhecimento pode aumentar e se tivermos um aumento do investimento em Portugal, conseguimos também aumentar a intensidade do investimento, o que pode levar a economia a crescer de forma consistente e consolidada, acima de 3% nos próximos anos, disse o Dean da Católica numa apresentação a jornalistas do estudo Portugal as a Prime Investment Destination: Infrastructure & Innovation at the Core que vai ser apresentado hoje no Portugal Capital Markets Day 2025.
O que vai de encontro ao que disse esta terça-feira o ministro de Estado e das Finanças, Joaquim Miranda Sarmento, que defendeu que o Produto Interno Bruto (PIB) português poderá crescer 3% ao ano se se reduzir a burocracia e Portugal continuar a atrair mão de obra.
O responsável da Universidade Católica diz que acha que isto é possível porque há um conjunto de fatores estruturais e de capital humano e de ecossistema de inovação que permitem que haja essa transformação da economia portuguesa.
O relatório foi desenvolvido pelo Centro de Estudos Aplicados Católica Lisbon (UCP), a convite da Euronext e AEM, inserido como uma das ações do Portugal Capital Markets Day 2025, e dá continuidade ao estudo publicado em 2024 sobre as tendências estruturais da economia portuguesa, aprofundando agora os fatores críticos que sustentam o seu posicionamento num contexto geopolítico em rápida transformação.
O estudo analisa a evolução destas duas dimensões, Infraestrutura e Inovação, como pilares transversais de competitividade, destacando as áreas onde Portugal possui vantagens comparativas e oportunidades de investimento significativas.
A análise demonstra que o forte desempenho económico registado entre 2022 e 2025 não é circunstancial, mas resultado de motores sustentáveis de crescimento, como o reforço do capital humano, a modernização das infraestruturas e a consolidação de um ecossistema de inovação com impacto económico e social duradouro.
O relatório identifica ainda áreas de investimento emergentes, desde centros de I&D e tecnologias avançadas até energia, economia azul, logística e manufatura de elevado valor acrescentado, reforçando a visão de Portugal como um destino estratégico para investimento sustentável, inovação e talento global.
Filipe Santos realçou que o Governo está numa política contracíclica de poupança e de excedentes orçamentais, e isso é quase o único na economia europeia. Em 26 países, talvez haja três que têm excedente orçamental, Portugal é um deles.
Segundo o Dean da Católica, o que aconteceu é que Portugal se tornou, a partir de 2021, 2022, atrativo para capital e talento. Para o economista o fenómeno da imigração, e não necessariamente a imigração de baixa qualificação, tanto a de baixa qualificação como a de elevada qualificação, permitiu reverter o peso do envelhecimento da população e a inércia grande da economia portuguesa. A população e a população ativa estavam a diminuir todos os anos, e isso puxa para baixo a economia.
A partir de 2019, o saldo migratório torna-se claramente positivo. Portanto, as pessoas que saem são muito menos do que as pessoas que chegam para serem residentes e para trabalharem, disse.
Explicou ainda que a partir de certa altura, conseguiu inverter-se o crescimento da população, em vez de ser negativo, passou a ser positivo. Depois reforçou-se e todos os anos acrescentamos à população residente, cerca de 100 mil pessoas, 1% da população., a maior parte dos quais integra-se no mercado de trabalho.
Portanto, todos os anos, a economia cresce 1% só por termos mais pessoas a trabalhar, a consumir, a produzir, a criar riqueza. Porquê que isto é bom e é sustentável? Porque, ao contrário de muitos outros países, Portugal tem uma imigração que, na sua grande maioria, é próxima culturalmente, linguisticamente, religiosamente e também com elevada qualificação. Ou seja, 50% da imigração vem do Brasil ou dos países de expressão portuguesa; portugueses africanos de expressão portuguesa, portanto, muito fáceis de integrar no mercado de trabalho, defende o Dean da Católica.
A análise da população empregada em idade ativa revela que desde 2019 dois países se destacam, a Espanha e Portugal, acima de todos os outros. Ou seja, em 5 anos, passámos de uma base de 100 pessoas ativas para cerca de 106. Portanto, cresceu 6% a população ativa, revela o estudo.
Hoje em dia, temos o desemprego a um baixo nível recorde, temos 5,8% de desemprego. Temos o emprego no valor máximo de 5,3 milhões de pessoas a trabalhar ativamente, a produzir, a pagar impostos, a pagar as contribuições sociais, o que também ajuda as contas públicas. O que permite que o Estado consolide a sua posição, mantendo os apoios sociais, destaca Filipe Santos.
Portugal bem posicionado mesmo em contexto adverso
Filipe Santos falou do risco da política tarifária da administração Trump que pode prejudicar a economia portuguesa e europeia. É verdade, no entanto, que da nossa análise o mercado americano representa apenas 7% das exportações portuguesas. Da nossa análise, se as tarifas no nível atual vão um bocadinho acima, o impacto no PIB seria menos de 1% (de 0,1%). Obviamente haveria dor em alguns setores mais específicos.
Outro risco prende-se com o aumento da incerteza geopolítica, se houver um escalar de conflito entre a Ucrânia e a Rússia, ou um arrefecimento das relações com a China, pode haver um cenário onde as tensões aumentem muito. Mas eu acho que, ironicamente, nesse cenário, Portugal sai beneficiado. Porque será necessário muito mais investimento da Europa em defesa e autonomia estratégica, porque Portugal é o local mais seguro da Europa, longe dos conflitos, uma ponte para a América e para a África e, portanto, no contexto atual, mesmo com um cenário de maior tensão geopolítica, Portugal pode ser beneficiado, defendeu.
Portanto, qual é a razão para ser otimista? São as vantagens estruturais que a economia portuguesa desenvolveu nos últimos anos e que podem potenciar um ciclo de investimento produtivo e criação de riqueza, disse.
Quais as vantagens de Portugal (uma delas é que temos energia barata)
O futuro está ligado às vantagens que Portugal tem em energia renovável, em telecomunicações, em recursos naturais, em fontes de financiamento para a economia, em capital humano e em ecossistema de inovação.
Nós conseguimos ter 35% da energia a vir de fontes renováveis, o que no contexto europeu é, de facto, singular. A vantagem traduz-se numa redução dos preços da energia, especialmente para clientes industriais, defende. Nós temos um custo de energia abaixo da média europeia neste momento e a economia digital, os centros de dados, a reindustrialização faz-se com a energia barata. O facto de termos energia barata é um fator competitivo importantíssimo neste processo de investimento que vai decorrer nos próximos anos na Europa, acrescenta.
Portanto além da localização segura e estratégica, temos a energia barata. Outro elemento é que hoje em dia a economia digital faz-se de conectividade, de telecomunicações e Portugal, fruto dos investimentos que foram feitos, tem uma situação também singular tanto no wireless, no 5G, onde temos 100% do país coberto com 5G, como no broadband da fibrótica, onde sempre fomos fortes e agora temos 90% e muitos do país coberto. Portanto, em termos de conectividade, temos uma posição também singular o que é fundamental para a economia digital.
Ao mesmo tempo, somos o ponto de interconexão dos cabos submarinos que vêm da América, da América Latina, de África, e há grandes investimentos em cabos submarinos que vão desembarcar na costa portuguesa em Sines. O que faz com que sejamos um hub de conexão para toda a Europa, acrescentou.
Aumento da produtividade agrícola e florestal
Filipe Santos numa longa apresentação aos jornalistas na sede da Euronext Lisbon falou também de uma transformação que foi invisível, mas que aconteceu na última década, referindo-se ao aumento muito grande da produtividade agrícola e florestal.
Em termos de recursos naturais, apesar de ter um país pequeno em dimensão, temos características únicas. Temos uma grande área florestal, com um tipo de árvore muito competitiva, produtiva para a indústria de pasta e papel e daí termos grandes empresas de pasta e papel, incluindo a Navigator, que é um dos líderes mundiais neste setor e é a empresa portuguesa com maior valor económico acrescentado, porque tem a integração vertical desde a floresta à produção eficiente e à venda e marcas fortes. Temos a maior indústria de cortiça do mundo, representamos 50% do mercado mundial de cortiça, (20:12) com líderes mundiais como a Cortiça Amorim, referiu.
Somos top 5 no mundo em exportação de azeite e, obviamente, temos uma indústria vinícola de vinhos, que tem uma relação de qualidade preço, eu diria, única no panorama mundial, acrescentou.
Filipe Santos atribui isto ao bom uso da água e lembra que o projeto do Alqueva foi transformador para o sul de Portugal, a área irrigada aumentou muito e a produtividade agrícola aumentou. De notar que nós temos um bom sistema de reservatórios de água, de albufeiras, para todo o país. Nós, no pico do Verão, tínhamos a reserva de água acima de 70%, o que é acima da média histórica. Temos uma Estratégia Nacional da Água bem pensada que vai permitir que a água seja um recurso estratégico e não escasso para os próximos anos para a economia portuguesa.
Uma outra nota, a água é fundamental para a economia digital, para o arrefecimento dos centros de dados que precisam de espaço, de energia e de água, lembrou.
Depois a chamada economia azul, é um potencial ainda emergente, mas que vai criar novas oportunidades de investimentos. Temos ainda um setor de aquacultura que está em tremendo crescimento e que duplicou em menos de uma década, sublinhou.
Temos também as maiores reservas de lítio da Europa, 60 mil toneladas métricas, o que é o maior da Europa e é um componente essencial para a eletrificação. Para a autonomia estratégica da Europa face ao resto do mundo estas reservas são fundamentais. Além também de termos alguns minerais essenciais, acrescentou.
No financiamento, reconheceu que atravessámos momentos difíceis que o nosso sistema bancário, mas que hoje em dia temos um sistema bancário sólido, dos mais sólidos da Europa, que tem um rácio de capital acima dos 20% pelo que há capacidade de concessão de crédito. Por outro lado somos muito avançados na questão dos sistemas de pagamento.
Filipe Santos destacou que temos conseguido ter empresas muito inovadoras, que, por exemplo, quem vai garantir da segurança do Eurodigital, vai ser feito, primeiramente, a portuguesa, a Feezai, o unicórnio na área da Cibersegurança e IA.
Nos últimos dois anos, atingimos a média europeia em termos de poupança. Esta poupança vai para os bancos, vai para o mercado de capitais, e pode ser canalizada em investimentos e, portanto, em termos financeiros, condições e, havendo também uma expansão dos mercados de capitais, como desejamos, há condições para financiar e apoiar o crescimento da economia portuguesa, frisou.
Tudo isto para dizer que todas estas condições permitem projetos industriais de grande escala. Um deles é o Hub de Sines, um dos portos de água profunda maiores da Europa.
Foi criado em Sines um Data Center que tem várias fases de implementação, mas a primeira fase já está concluída e, ao operar, e pode ser um dos maiores da Europa. O investimento, na sua conclusão, será cerca de 3 bilhões de euros.
Temos agora a informação de um contrato com uma empresa chinesa de produção de baterias fotovoltaicas na zona de Sines. Temos projetos de hidrogénio verde da Repsol e da Galp. Temos todo um cluster industrial e energético na área de Sines. Está-se a criar aqui, digamos, um polo de desenvolvimento industrial da economia portuguesa, referiu.
Importância do capital humano
Mas uma economia não se desenvolve sem reforçar o seu capital humano e sem ter incorporação de conhecimento, defendeu.
O investimento de qualificação e do capital humano português foi enorme nos últimos anos, sem igual, comparando com outros países, o que permite a convergência e até a ultrapassagem de Portugal em relação a alguns países, como a Itália, em termos da qualificação da sua força de trabalho. Isto é muito importante para aquele 1% da incorporação de conhecimento, revelou. Tem havido um reforço da dimensão do ensino superior universitário em Portugal. Isto é possível porque o setor universitário tem uma elevada qualidade e permite atrair alunos internacionais, cientistas internacionais, para trabalharem e produzirem em Portugal, o que permite contornar a crise demográfica.
O crescimento da economia vai-se fazer através da atração de talento e da produtividade que esse talento tem na economia, defendeu.
Por outro lado, estamos muito atrativos para os milionários do mundo. Uma consultora apontou que este ano é esperado ascender a 1.400 os novos milionários que chegam a Portugal, é a sétima posição mundial.
Disse também que Portugal hoje em dia não é só Lisboa, é multipolar, em termos de ecossistema de inovação o que é importante para a consolidação do potencial de crescimento. Por exemplo temos um cluster aeronáutico em Évora. Coimbra gerou a Critical Software, uma das maiores empresas de software nacionais com parcerias internacionais.
O país tem hoje manufatura de elevada qualidade, só para dar um exemplo, os sapatos portugueses estão no ranking dos segundo melhores do mundo, depois da Itália, apontou.
Portugal está muito bem posicionado em áreas que vão ser de forte crescimento no futuro, disse o economista.
Quatro oportunidades de investimento
Há quatro de oportunidades de investimento que se destacam. Uma é Saúde, Indústria Farmacêutica e Biotecnologia. Outra os Centros de Competência das Empresas Multinacionais. Outra a Digital/Cloud Industrie e outra ainda Defesa e Drones, referiu.
Na Saúde, Indústria Farmacêutica e Biotecnologia temos centros de investigação e ciência do melhor que se faz no mundo.
Há cerca de 5 biliões de euros de exportação da indústria farmacêutica portuguesa, revelou.
A nossa análise conclui que cada milhão de euros investidos em I&D em Portugal gera, em média, 8 postos de trabalho qualificados, através dos efeitos diretos e indiretos na economia, disse Filipe Santos.
Temos em Portugal centros de competência em serviços de elevado valor acrescentado de multinacionais. Por exemplo o BNP Paribas foi o maior recrutador qualificado de Portugal nos últimos sete anos, tem 10 mil pessoas a trabalha em centros de competência.
Vai ser necessário um enorme investiment0 na Europa em Data Centers para a economia digital e todas as fases da cadeia de valor. Portugal está bem posicionado para ser um dos motores da economia digital na Europa.
Finalmente temos a defesa onde vai haver enormes investimentos. Temos algumas empresas de fornecimento de componentes, e temos um indústria de metalomecânica com enorme qualificação. Temos empresas da área dos drones e da aeronáutica.