A indústria têxtil portuguesa está a olhar para a Defesa como uma oportunidade de negócio e já tem em marcha vários projetos. Saiba quais são.
Tecnologia de coletes balísticos, camuflagem militar invisível, fatos de proteção nuclear e têxteis inteligentes capazes de aumentar a segurança, o bem-estar e o desempenho dos soldados são alguns dos projetos que a indústria portuguesa está a desenvolver para a área da defesa. Três dos projetos são financiados pelo Fundo Europeu de Defesa com o montante de 44,78 milhões de euros. O “timing para Portugal se posicionar na área da Defesa é agora”, defende Braz Costa, do Centro Tecnológico das Indústrias Têxtil e do Vestuário de Portugal (Citeve).
O Citeve está envolvido em vários projetos de desenvolvimento e industrialização de soluções para a área da Defesa com forte componente têxtil, desde os fardamentos, soluções balísticas, camuflagem adaptativa até aos materiais avançados têxteis para serem aplicados nos drones, carros de combate, aeronaves, entre outros. Alguns deles são financiados pelo Fundo Europeu de Defesa, fundo que, até 2027, tem cerca de 8 mil milhões de euros para investir em diversas áreas em torno do setor da defesa europeia.
“São produtos muito técnicos e tecnológicos, com muito maior valor acrescentado que a moda”, afirma o diretor do Citeve em declarações ao ECO/eRadar. Braz Costa não tem dúvidas que esta “é uma oportunidade para a indústria têxtil” e assegura que “não quererem deixar fugir essa oportunidade”.
Um desses projetos é o Adaptive Camouflage For Soldiers and Vehicles (ACROSS), com um orçamento global de cerca de 14,9 milhões de euros financiados pelo FED. O ACROSS conta com a experiência de forças militares, indústria, universidades e centros de I&D, sob coordenação de Portugal através do Citeve.
“Estamos a falar de camuflagem visual, mas também camuflagem relativamente aos radares, detetores de infravermelhos e outras radiações. É camuflagem no sentido integral. Não ser visto nem por pessoas, nem por máquinas. A ideia é camuflar as pessoas, aumentar a segurança do soldado no campo de batalha com sistemas mais eficazes, mas também aplicar o sistema às viaturas, drones, entre outros”, explica António Braz Costa, diretor-geral do centro tecnológico.
A tecnologia vai ser capaz de adaptar a camuflagem aos diversos ambientes, seja numa floresta ou num deserto, ao mudar de tom. “A camuflagem adapta-se ao ambiente de forma a não permitir a visibilidade da pessoa ou dos veículos”, diz o diretor-geral do Citeve. Braz Costa considera ainda que o facto de o centro tecnológico de Famalicão ser o coordenador deste projeto europeu “é extremamente importante para Portugal e para a indústria têxtil portuguesa”, destacando que “está em velocidade de cruzeiro”.
Este projeto com tecnologia disruptiva de camuflagem junta 19 parceiros de nove países europeus que pretendem “colocar a defesa europeia na vanguarda mundial” e desenvolver tecnologias e soluções disruptivas para camuflagem adaptativa, capazes de responder a diferentes condições ambientais.
Outro dos projetos que o Citeve está envolvido é o ECOBALLIFE, também ele financiado na sua totalidade pelo Fundo Europeu de Defesa, que junta 16 entidades de seis países europeus. Com uma dotação de pouco mais de dez milhões de euros, este projeto tem como objetivo desenvolver soluções de proteção avançadas e sustentáveis para soldados e plataformas de defesa.
“É um projeto que está focado na utilização de materiais de origem biológicas para aplicações em Defesa, e isto engloba proteção e segurança, ou seja, não estamos apenas a falar de aplicações militares estamos a falar de aplicações por exemplo para a polícia e proteção civil”, explica Braz Costa ao ECO/eRadar.
Por fim, o Citeve e o Instituto de Ciência e Inovação em Engenharia Mecânica e Engenharia Industrial (INEGI) estão envolvidos no ARMETISS. Com uma dotação de 22 milhões de euros — com o FED a financiar 19,88 milhões —, o projeto, que abrange 20 parceiros de oito países, reúne os principais intervenientes em equipamentos militares, têxteis inteligentes e sistemas de sensorização. O consórcio tem como meta a criação de têxteis inteligentes que incorporem tecnologias avançadas de localização, termorregulação corporal, monitorização fisiológica, conversão e distribuição integrada de energia.