A Alemanha continua a revelar uma posição invejável no contexto mundial.
Segundo o índice global de poder, a maior economia da União Europeia (UE) fecha este ano no terceiro lugar no clube das grandes potências, a seguir aos Estados Unidos (EUA) e à China, ainda que a uma distância significativa.
Este índice global é calculado pelo Pardee Institute for International Futures, ligado à Escola de Estudos Internacionais da Universidade de Denver, nos EUA. Abrange várias dimensões, que incluem economia, demografia, diplomacia, força militar e tecnologia.
A Alemanha representa uma fatia de 4,2% no poder mundial face a 24% para os EUA e 17% para a China. Apesar do choque económico violento que a Alemanha sofreu com o divórcio da energia barata da Rússia, o que provocou dois anos de recessão em 2023 e 2024 e uma retoma muito modesta em 2025, o país conseguiu manter o terceiro lugar no poder mundial, ainda que ligeiramente acima do Japão e da Índia, e uma posição ainda muito forte no comércio internacional. Continua a ser a terceira maior máquina de exportação no mundo, depois da China e EUA.
No entanto, em riqueza criada anualmente, situa-se em sexto lugar, representando apenas 3% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial medido em paridade de poder de compra.
TRAJETÓRIAS NO COMÉRCIO INTERNACIONAL Em milhares de milhões de dólares O problema mais sério é o futuro. Segundo as projeções do índice global de poder, nos próximos 25 anos, a Alemanha vai cair do terceiro lugar para a sexta posição. De uma fatia de 4% vai descer para 3%. Será ultrapassada pela Índia (que salta para a terceira posição), Reino Unido e Rússia. “A razão para esta queda é o facto de o aumento em termos absolutos dos recursos e competências da Alemanha irem crescer mais lentamente, enquanto outros países vão crescer muito mais rápido. Isso é especialmente visível no poder diplomático, no comércio internacional e nos gastos governamentais em Investigação e Desenvolvimento”, refere ao Expresso Collin Meisel, diretor de análise no Pardee Institute for International Futures e professor na Josef Korbel School of Global and Public Affairs, na Universidade de Denver. Meisel destaca o caso do comércio internacional, onde a economia alemã tem sido, nos últimos 30 anos, a terceira potência mundial. Daqui a 15 anos, a Índia já estará à frente.
ALEMANHA VALE 3% DA ECONOMIA MUNDIAL Quota no PIB mundial em % em 2024 Um olhar sobre o curto e médio prazo também não é galvanizador. O Governo do chanceler Friedrich Merz aponta para um crescimento real anual de 1,3% em 2026 e 1,4% em 2027 e o Fundo Monetário Internacional (FMI), na mais recente análise da economia alemã, projeta 0,9% e 1,5%, respetivamente. Mesmo com a injeção de €500 mil milhões nos próximos 12 anos através do fundo especial para investimentos urgentes em defesa e infraestruturas, a Alemanha não deverá regressar ao seu antigo papel de ‘motor’ da UE. Um crescimento da economia alemã que puxe pela UE é improvável. O FMI projeta uma média anual de 1% até 2030, com um crescimento abaixo de 1% daqui a cinco anos. “Definitivamente não vai conseguir. Um crescimento acima de 2% está claramente fora de alcance para uma economia como a alemã, que está envelhecida. Já será um sucesso se uma combinação de reformas e de investimentos adicionais conseguir elevar o crescimento potencial da Alemanha para 1%. Mas mesmo isso é improvável”, sublinha ao Expresso Friedrich Heinemann, chefe de investigação no instituto ZEW (Leibniz Centre for European Economic Research), em Mannheim, e professor de Economia na Universidade de Heidelberg, na Alemanha. O otimismo não abunda: “Já se percebeu que o Sonderfonds [o fundo especial] não financia totalmente investimentos adicionais, mas que os fundos vão ser amplamente utilizados para gastos sociais. Pode-se até argumentar que esse dinheiro vai atrasar as reformas na Alemanha, já que dinheiro fresco alivia a pressão financeira de curto prazo, que, de outra forma, forçaria mais reformas no sistema de segurança social”, diz o economista.
MADE IN GERMANY É TERCEIRO NA EXPORTAÇÃO Em % da exportação global em 2024 A contrapartida negativa dos €500 mil milhões, admite Heinemann, é uma subida do rácio da dívida pública alemã para 85% a 90% do PIB daqui a 12 anos. O FMI projeta que o défice orçamental alemão suba para 4% do PIB em 2027. A reputação orçamental alemã poderá estar em causa: “Essa reputação da Alemanha vai deteriorar-se se o uso indevido atual do fundo especial continuar. As chamadas regras de Maastricht já não existem de uma forma clara. Muito depende da interpretação por parte da Comissão Europeia. E a Comissão, com uma fiscalização frouxa, prepara o caminho da Europa para níveis de dívida perigosamente altos”, refere o economista do ZEW. Olhando para a pegada alemã no mundo vemos que, no grupo das 60 empresas cotadas com maior capitalização no mundo, a Alemanha conta com apenas uma, a SAP, em 43o lugar. No sector dos semicondutores, no grupo das 50 empresas mais importantes do mundo, só se encontra uma alemã, a Infineon.
ALTOS E BAIXOS NO CRESCIMENTO DA ALEMANHA Variação trimestral do PIB real em % Em geral, no que se batizou por “Indústria 4.0” — integrando internet das coisas, computação em nuvem, análise de dados, IA e maquinaria com capacidade de aprendizagem —, este investigador do ZEW acha que a Alemanha tem uma boa posição. E considera que não está tão ameaçada como nos casos da indústria automóvel, da indústria química e da eletrónica. Sector automóvel em risco.
(Jorge Nascimento Rodrigues Jornalista)
Segundo o índice global de poder, a maior economia da União Europeia (UE) fecha este ano no terceiro lugar no clube das grandes potências, a seguir aos Estados Unidos (EUA) e à China, ainda que a uma distância significativa.
Este índice global é calculado pelo Pardee Institute for International Futures, ligado à Escola de Estudos Internacionais da Universidade de Denver, nos EUA. Abrange várias dimensões, que incluem economia, demografia, diplomacia, força militar e tecnologia.
A Alemanha representa uma fatia de 4,2% no poder mundial face a 24% para os EUA e 17% para a China. Apesar do choque económico violento que a Alemanha sofreu com o divórcio da energia barata da Rússia, o que provocou dois anos de recessão em 2023 e 2024 e uma retoma muito modesta em 2025, o país conseguiu manter o terceiro lugar no poder mundial, ainda que ligeiramente acima do Japão e da Índia, e uma posição ainda muito forte no comércio internacional. Continua a ser a terceira maior máquina de exportação no mundo, depois da China e EUA.
No entanto, em riqueza criada anualmente, situa-se em sexto lugar, representando apenas 3% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial medido em paridade de poder de compra.
TRAJETÓRIAS NO COMÉRCIO INTERNACIONAL Em milhares de milhões de dólares O problema mais sério é o futuro. Segundo as projeções do índice global de poder, nos próximos 25 anos, a Alemanha vai cair do terceiro lugar para a sexta posição. De uma fatia de 4% vai descer para 3%. Será ultrapassada pela Índia (que salta para a terceira posição), Reino Unido e Rússia. “A razão para esta queda é o facto de o aumento em termos absolutos dos recursos e competências da Alemanha irem crescer mais lentamente, enquanto outros países vão crescer muito mais rápido. Isso é especialmente visível no poder diplomático, no comércio internacional e nos gastos governamentais em Investigação e Desenvolvimento”, refere ao Expresso Collin Meisel, diretor de análise no Pardee Institute for International Futures e professor na Josef Korbel School of Global and Public Affairs, na Universidade de Denver. Meisel destaca o caso do comércio internacional, onde a economia alemã tem sido, nos últimos 30 anos, a terceira potência mundial. Daqui a 15 anos, a Índia já estará à frente.
ALEMANHA VALE 3% DA ECONOMIA MUNDIAL Quota no PIB mundial em % em 2024 Um olhar sobre o curto e médio prazo também não é galvanizador. O Governo do chanceler Friedrich Merz aponta para um crescimento real anual de 1,3% em 2026 e 1,4% em 2027 e o Fundo Monetário Internacional (FMI), na mais recente análise da economia alemã, projeta 0,9% e 1,5%, respetivamente. Mesmo com a injeção de €500 mil milhões nos próximos 12 anos através do fundo especial para investimentos urgentes em defesa e infraestruturas, a Alemanha não deverá regressar ao seu antigo papel de ‘motor’ da UE. Um crescimento da economia alemã que puxe pela UE é improvável. O FMI projeta uma média anual de 1% até 2030, com um crescimento abaixo de 1% daqui a cinco anos. “Definitivamente não vai conseguir. Um crescimento acima de 2% está claramente fora de alcance para uma economia como a alemã, que está envelhecida. Já será um sucesso se uma combinação de reformas e de investimentos adicionais conseguir elevar o crescimento potencial da Alemanha para 1%. Mas mesmo isso é improvável”, sublinha ao Expresso Friedrich Heinemann, chefe de investigação no instituto ZEW (Leibniz Centre for European Economic Research), em Mannheim, e professor de Economia na Universidade de Heidelberg, na Alemanha. O otimismo não abunda: “Já se percebeu que o Sonderfonds [o fundo especial] não financia totalmente investimentos adicionais, mas que os fundos vão ser amplamente utilizados para gastos sociais. Pode-se até argumentar que esse dinheiro vai atrasar as reformas na Alemanha, já que dinheiro fresco alivia a pressão financeira de curto prazo, que, de outra forma, forçaria mais reformas no sistema de segurança social”, diz o economista.
MADE IN GERMANY É TERCEIRO NA EXPORTAÇÃO Em % da exportação global em 2024 A contrapartida negativa dos €500 mil milhões, admite Heinemann, é uma subida do rácio da dívida pública alemã para 85% a 90% do PIB daqui a 12 anos. O FMI projeta que o défice orçamental alemão suba para 4% do PIB em 2027. A reputação orçamental alemã poderá estar em causa: “Essa reputação da Alemanha vai deteriorar-se se o uso indevido atual do fundo especial continuar. As chamadas regras de Maastricht já não existem de uma forma clara. Muito depende da interpretação por parte da Comissão Europeia. E a Comissão, com uma fiscalização frouxa, prepara o caminho da Europa para níveis de dívida perigosamente altos”, refere o economista do ZEW. Olhando para a pegada alemã no mundo vemos que, no grupo das 60 empresas cotadas com maior capitalização no mundo, a Alemanha conta com apenas uma, a SAP, em 43o lugar. No sector dos semicondutores, no grupo das 50 empresas mais importantes do mundo, só se encontra uma alemã, a Infineon.
ALTOS E BAIXOS NO CRESCIMENTO DA ALEMANHA Variação trimestral do PIB real em % Em geral, no que se batizou por “Indústria 4.0” — integrando internet das coisas, computação em nuvem, análise de dados, IA e maquinaria com capacidade de aprendizagem —, este investigador do ZEW acha que a Alemanha tem uma boa posição. E considera que não está tão ameaçada como nos casos da indústria automóvel, da indústria química e da eletrónica. Sector automóvel em risco.
(Jorge Nascimento Rodrigues Jornalista)