Depois de uma dura reprimenda em Novembro, a Grécia vai hoje tentar cair nas boas graças da Comissão Europeia (CE). Com um défice orçamental recorde próximo de 13%, o governo grego precisa de convencer Bruxelas de que o seu pacote de estabilidade será capaz de resolver a grave crise financeira e orçamental do país.
O plano de ataque, cujo objectivo inicial é baixar o défice de 12,7% para 8,7% já este ano, é visto como moeda de troca para o empréstimo de 54 mil milhões de euros que a Grécia precisa de conseguir nos mercados internacionais para cobrir o défice fiscal e refinanciar a dívida. Se a CE não aprovar o plano, o governo liderado por George Papandreou, eleito apenas há três meses, terá contas muito difíceis para fazer. Principalmente depois de as três maiores agências de notação financeira, Standard & Poors, Fitch e Moody`s, terem baixado o rating da dívida grega em Dezembro. Estas correcções simultâneas vão tornar ainda mais caro o crédito de um dos países mais endividados da zona euro. Quais são as implicações do problema? O país pode ficar impedido de contrair empréstimos no mercado obrigacionista e, em último caso, forçar a União Europeia a uma dispendiosa injecção de capital para repor a liquidez. Ao mesmo tempo, e apesar de o Fundo Monetário Internacional ter admitido que poderá ajudar a Grécia caso a UE o requeira, a confiança dos mercados no euro poderá ser abalada.
"O programa de estabilidade vai marcar objectivos ambiciosos mas possíveis, para levar o défice orçamental abaixo dos 3% do PIB em 2013", adianta ao "Financial Times" o economista George Zanias, líder da equipa responsável pelo plano.
Entre as medidas contempladas estão a reestruturação da Segurança Social, a homogeneização da idade de reforma para homens e mulhere,s e a legalização de mais de 100 mil imigrantes. Iniciativas consideradas fundamentais, apesar de polémicas, até porque a União Europeia já deu vários puxões de orelhas ao governo grego nos últimos meses. No início de Novembro, a UE voltou a dizer que o novo executivo estava a fazer "muito pouco" para cortar o défice e anunciou que iria distinguir a Grécia dos outros membros que em 2009 excederam o défice permitido de 3% do PIB (na prática, todos os estados-membro à excepção da Bulgária). No total, a Grécia tem uma dívida superior a 300 mil milhões de euros, um recorde na sua história.
Ainda assim, o primeiro-ministro Papandreou recusou-se a tomar medidas drásticas para minorar o crescimento do défice, como, por exemplo, cortes nos salários dos funcionários públicos. O orçamento do Estado para 2010 foi aprovado no parlamento grego com os votos contra da oposição e contou também com uma forte contestação do público. O sindicato ADEDY, por exemplo, ameaçou convocar uma greve de 24 horas em Fevereiro em protesto contra as medidas de contenção, que considera serem resultado das pressões do mercado bolsista.
"Estou convencido que as autoridades gregas vão fazer tudo o que for necessário para que o programa de estabilidade seja aprovado pela Comissão Europeia", afirmou o professor de economia da Universidade de Atenas, Yiannis Stoumaras, ao mesmo diário britânico.
A verdade é que as medidas até agora anunciadas não entusiasmaram os analistas. Sarah Carlson, da Moody's, fez questão de sublinhar em entrevista à Reuters que a deterioração do défice grego não se deve à crise global, mas a problemas estruturais de despesismo e fiscalidade.
Fonte/Autor: Ana Rita Guerra, i